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Gabriela - 12.08.2024

Sofia's Wish

Doce Gabriela Cravo & Canela,

 

Escrevo-te no dia em que completaríamos 40 semanas de gravidez, mas nestas lides - bem o sabemos - quem dita as regras, como o dia e a hora de nascimento, são os bebés e/ou os médicos e no vosso caso não foi naturalmente diferente com uma indução programada na maternidade Alfredo da Costa no passado dia 12 de agosto às 38 semanas.


O parto, dos três o mais veloz, precipitou-se de tal modo que mais parecíamos os protagonistas de uma cena digna de filme, misto drama/ação/comédia, em que vocês praticamente nasceram numa corrida desenfreada de maca pelo corredor a caminho do bloco de partos. Consegues imaginar, meu Amor?


Nasceu primeiramente o mano Henrique pelas 17h21 e tu logo a seguir pelas 17h24. A mamã conseguiu ver-te ainda no bloco de partos e mais tarde, já no recobro, quis despedir-me novamente de ti, eu e o papá.


Tudo em ti era perfeito, não obstante o diagnóstico de trissomia 18 e o decurso do tempo volvido de quase mês e meio, desde o momento em que o teu coração deixou de bater. E quanta serenidade o teu semblante transmitia, minha Gabi!! Afinal de contas, sempre soubeste o quanto este momento seria importante para a mamã e não poderia, por isso, ser doutro modo.


No meu colo, agora irremediavelmente incompleto, sinto ainda o peso do teu corpo gravado no meu abraço e sob os meus dedos a memória de cada traço do teu rosto e da tua pele macia, estranhamente quente ao meu toque.

Não vá essa mesma memória trair-me com o passar dos anos quis igualmente tirar fotografias contigo e somente a ti. Falei-te novamente, dizendo-te o quanto te amo e lamento não poder fazer mais por ti, beijei-te, não só por mim, como também pelos manos. Por falar neles, a mana Helena fala de ti todos os dias e todos os dias procura e encontra algum sinal teu ❤️


O papá quis igualmente pegar em ti ao colo e embalou-te, como se embalam os bebés com vida. Foi ele, aliás, quem envolveu o teu corpo na mantinha que a mamã quis comprar especialmente para ti e para este nosso momento.


Após um período de maior tranquilidade, resultado da confirmação do bem-estar e saúde do mano Henrique, assim como da nossa despedida e do modo como mesma decorreu, confesso sentir-me agora algo apática, uma mera espectadora da minha própria vida. Quase vazia, diria mesmo. Quem sabe o tempo, o mesmo que tanta coisa leva, não possa igualmente devolver-me o sorriso diante as memórias daquilo que vivemos juntas?!

Têm descrito o luto como as ondas do mar que vão e vêm e assim me parece, realmente…

 

Beijinho enorme da Terra até ao Céu

Da mamã que te Ama e Amará Sempre

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