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Sofia - 05.11.2022

Sofia's Wish

Atualizado: 29 de mar. de 2024


Esta é a primeira vez que estou a contar a história da Sofia com detalhes.


Faz hoje 7 meses que a Sofia nasceu sem vida. Até agora não consegui contar na integra o que aconteceu. Custa-me voltar ao passado e revisitar partes de grande dor.

Quando descobri que estava grávida fiquei com uma alegria imensa, era a minha primeira gravidez. Mas passado poucos dias a alegria tornou-se em medo. Comecei a sangrar e fui para o hospital. Fizeram-me uma ecografia e não conseguiam ver nada para além do saco porque ainda estava muito cedo para ver o bebé. Ainda só estava de 4 semanas mas pela ecografia estava só de 3 semanas mas tudo parecia normal. Comecei a sangrar aos poucos e cada vez mais até que fui outra vez às urgências. Outra ecografia e outra vez normal, disseram-me só para voltar se sangrasse mesmo muito. Até que chegou o dia que comecei a sangrar mais, e mais uma vez fui às urgências. Nesse dia tive a sorte com o médico que me calhou, ele disse para começar a tomar progesterona e fazer ecografias todas as semanas até verem o coração do bebé a bater. Com a progesterona deixei de sangrar e as ecografias estavam bem e até foi bom ver a Sofia todas as semanas até ver o seu coraçãozinho a bater.


O medo acompanhava-me para todo o lado, as ecografias eram difíceis.

Mas ela estava mais pequena do que devia estar para a sua idade gestacional, mas tinha de esperar pela ecografia das 12 semanas para realmente ver se estava tudo bem. O medo acompanhava-me para todo o lado, as ecografias eram difíceis. Tudo parecia estar bem com a Sofia mas continuava pequenina e a minha placenta não funcionava bem. Ela mexia-se muito e nada parecia errado mas por ser pequena aconselharam-me a ser vista por um hospital especializado para bebés pequenos e prematuros.


Ela corria o risco de nascer antes do tempo. Os médios e enfermeiras foram impecáveis. Informaram-nos de tudo e o que aconteceria se a Sofia nascesse antes do tempo. Tinha de ir todas as semanas fazer a ecografia e falar com o médico. Disseram-nos que era quase impossível que ela morresse dentro de mim porque estava a ser seguida todos as semanas. Então nunca me passou pela cabeça que isso fosse acontecer.


Os dias entre a ecografia que vi a minha filha viva pela última vez até à ecografia que descobri que ela não tinha o coração a bater, é uma das mais difíceis de me lembrar e dói imenso em pensar que continuei com a minha vida sem me aperceber que a minha filha tinha morrido. Eu já a sentia mexer desde mais ou menos das 16 semanas e às 26 semanas eu sentia os pontapés dela. Eu não me apercebi que algo estava mal porque a sentia mexer de um lado para o outro. A médica depois disse-me que a Sofia ou tinha morrido há pouco tempo ou era normal acontecer ela mexer-se no líquido amniótico depois de morrer. Quando soube que a Sofia tinha morrido na ecografia de rotina às 27 semanas de gestação senti que estava completamente sozinha.


Até que descobri um mundo paralelo cheio de pessoas como eu, a sofrer pela morte dos seus bebés. Um mundo que ninguém quer pertencer, mas em que as pessoas são amáveis e que me percebiam como ninguém.

Sabia que os bebés morriam, pensava que era muito raro e eu era o raro. Até que descobri um mundo paralelo cheio de pessoas como eu, a sofrer pela morte dos seus bebés. Um mundo que ninguém quer pertencer, mas em que as pessoas são amáveis e que me percebiam como ninguém. Depois desse dia não me lembro o que fiz. Acho que eu mais o meu marido ficámos a olhar para a parede e a chorar. Até ao parto sempre pensei que tinha sido um engano e que ela ainda estava viva.


No dia a seguir fomos ao nosso hospital local falar com a enfermeira parteira especializada em luto e explicou tudo o que ia acontecer. Tinha de esperar 2 dias até começar a indução. Não me lembro muito como passei os dias até lá, a chorar de certeza e a abraçar a minha barriga.


No dia da indução eu mais o meu marido ficámos num quarto no hospital todo mobilado para podermos passar quantas noites quiséssemos com a Sofia. O parto foi rápido e conseguimos ficar com a Sofia 2 noites. Nunca pensei ficar tanto tempo mas era difícil deixá-la. Naqueles dias sentia-me em paz e feliz por estar com a minha filha. Vestia-a, peguei nela, tirámos imensas fotografias, pusemos peluches ao pé dela para lhe fazer companhia, fizemos as impressões digitais e em clay das mãos e pés e guardámos uma mecha do seu cabelinho. Quando tivemos de ir embora sabíamos que não iríamos conseguir vê-la outra vez e foi muito difícil deixá-la.


A Sofia foi para a autópsia e o funeral foi um mês depois e até lá ainda conseguimos estar com ela na funerária e foi muito bom mas não conseguimos vê-la. O dia do funeral foi muito difícil mas tivemos o apoio da nossa família, demos aos tios e avós da Sofia uma lembrança dela, corações e ursinhos de peluche que estiveram com ela no hospital para que eles nunca se esquecessem dela. É bom ter as cinzas da Sofia em casa e ter um espaço para ela. Ainda tenho a manta e alguns peluches dela numa mala fechada para que o cheiro dela dure o máximo tempo possível e às vezes quando a saudade aperta abro a mala e cheiro a manta dela, uma manta que a avó dela fez com todo o amor.


Durante a gravidez e depois da Sofia ter morrido senti-me muito culpada. Por a minha placenta não funcionar, por ela ter tentado de tudo para viver e eu não lhe dei o que ela precisava. Depois viemos a descobrir que o que a Sofia tinha era algo incompatível com a vida e não havia nada que eu pudesse ter feito para que ela vivesse. A Sofia viveu muito mais tempo do que normalmente os bebés com o mesmo problema vivem. A partir desse dia toda a culpa que sentia desapareceu e agradeci ao meu corpo por a ter mantido todo este tempo dentro de mim. Passado 7 meses ainda me sinto triste e com um vazio dentro de mim por a Sofia não estar comigo. Ela está constantemente no meu pensamento. Confesso que tem sido difícil, mas sigo dia a dia com esperança no futuro.


A mãe da Sofia

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